FALCÃO, Adriana. Mania de Explicação. Ilustrações Mariana Massarani. São Paulo: Moderna, 2001.
Explicando com poesia
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ANA PAULA CORRÊA PINHEIRO
Escolher livros de literatura como instrumentos de trabalho na prática cotidiana da sala de aula não deve ser uma tarefa fácil para o professor. Até porque, como todos sabem, tem literatura para todos os gostos e estilos. Há autores e editoras mais consagradas e outros que estão chegando ao “mercado”. Como escolher livros de literatura que podem, de alguma forma, inspirar os momentos de aprendizados dos nossos alunos? Sempre tento me colocar no lugar da criança ou do jovem ao ler um livro de literatura. As crianças, principalmente, são seres curiosos e sedentos por histórias, poesias, fantasias, magias, etc. A leitura de “Mania de Explicação”, de Adriana Falcão, editora Moderna, me permitiu viajar em explicações permeadas de muita poesia...
A autora conta a história de uma menina filósofa que por achar o mundo complicado tentava simplificá-lo, pelo menos, no interior da sua cabeça. No decorrer do livro, vão surgindo as explicações de algumas palavras. Essas explicações transmitem poesia, pois a menina “tentava explicar de um jeito que o mundo ficasse mais bonito” (FALCÃO, s/n, 2001). Mas as pessoas, irritadas com tantas explicações, acabavam deixando a menina explicando sozinha: solidão é uma ilha com saudade de barco (FALCÃO, s/n, 2001). Saudade é... Lembrança é... Autorização é... Preocupação é... Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele (FALCÃO, s/n, 2001). Vontade, para mim, é ler mais livros escritos pela incrível e talentosa Adriana Falcão. Roteirista e teatróloga, nascida no Rio de Janeiro, escreveu obras como “A máquina” (Editora Objetiva, 1999) e “A arte de virar a página” (Editora Fontanar, 2009). “Mania de Explicação” foi o seu primeiro livro voltado para o público infantil, teve duas indicações para o Prêmio Jabuti/2001 e recebeu o Prêmio Ofélia Fontes – “O Melhor para a Criança”/2001, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Ao ler essa obra com as crianças ou jovens, o professor poderá aguçar a poesia que existe em cada um dos seus alunos. Estes são acostumados a procurarem “explicações” no dicionário, mas não encontram a “leveza” e a simplicidade que a autora do livro consegue transmitir em suas explicações. Na verdade, percebo que a maioria dos dicionários tem estruturas muito formais, o que pode possibilitar a falta de interesse das crianças e dos jovens por esse instrumento. Atualmente, já existem dicionários destinados a esse público específico, com mais imagens, poesia e com linguagem apropriada às crianças. A obra “Mania de Explicação” pode se tornar realmente mania entre os alunos – Intuição é quando o seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido (FALCÃO, s/n, 2001) -, pois a linguagem utilizada pela escritora torna a leitura prazerosa e divertida. Além disso, o projeto gráfico, com seus traços e suas cores, contribui para que o livro fique ainda mais atrativo e belo. Quem começar a ler chegará ao final com gostinho de quero mais. A última explicação que a menina filósofa tenta dar é sobre o amor, mas ela chega à conclusão de que “talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar”. (FALCÃO, 2001). A leitura dessa obra fez com que eu refletisse sobre as diversas explicações que poderiam ser dadas às mesmas palavras, pois a poesia é infinitamente aberta e convidativa.
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