quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Cronica

Auto crítica



Ao longo dos anos fui sendo elaborada e reelaborada: a cada tempo um novo progresso.


Para alguns, quanto maior, mais bonita eu sou. Outros acreditam que a prova da modernidade é a diminuição contínua do meu tamanho.


Mas não importa. De várias polegadas ou de poços centímetros, cada vez mais faço parte da vida das pessoas. No compacto espaço de bolsas e pastas, impeço uma conversa no ônibus, ou um olhar pela janela. Na família, eu sou o membro principal, cada vez maior e em local mais central. Não existe mais jantar à mesa. Agora, com prato no colo, todos se reúnem, mas para me ver. Ou cada um vai para seu canto, para seu quarto, para me ver.


Mas, e as conseqüências? Antes, quando eu não existia, o ator principal era outro: o livro. Nessa época, tão longínqua, as coisas eram mais difíceis. A imagem não estava dada, era papel do leitor imaginá-la, criá-la, construí-la. O leitor não era mero coadjuvante (espectador) nessa relação.

Com a minha chegada, não há mais trabalho, as pessoas sentam-se, assistem, levantam-se, esquecem.


O efeito disso para as futuras gerações podem não ser facilmente visíveis, mas são determinantes. Se o livro ajudava na formação de sujeitos imaginativos, críticos, participantes, eu colaboro para que os indivíduos sejam mais acomodados e menos reflexivos.



Suryam

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